Praia do Flamengo 

Texto e Fotos Claudia Oliveira  
A lua cheia anunciava a chegada dos homens do mar. As esposas ansiosas esperavam seus maridos à beira-mar...
A casa de pau-a-pique, o fogão a lenha, a lamparina... Alguns usavam o lampião a gás. Mas a diferença social pouco importava quando ouvia-se o anúncio dos tambores da folia de reis já no morro da Ribeira em direção à praia do Flamengo. As festas do Divino ou de São João, onde, nas fogueiras, assavam as deliciosas fruta-pão, mandioca e batata-doce e principalmente os saraus eram comuns naquela época. As crianças divertiam-se nas translúcidas águas salgadas do oceano ou pelas colinas que abrigam a tal praia. Muitas corriam morro abaixo “totoa” nas folha secas das palmeiras. Mas o que as alegrava eram as visitas que o Frei Pio e as madres faziam, pois ele as catequizava brincando. 
A alimentação era à base de peixe geralmente acompanhado por folha de taioba, raiz de pirrixiu (encontrado junto ao jundu), mamão e outros. O café da manhã, muitas vezes, era o tutu de feijão ou o angu de farinha de mandioca. Raramente, aparecia um mascate vendendo pão caseiro. As compras eram feitas à base de caderneta na venda do seu Zeca, no Saco da Ribeira, e eram trazidas por canoas ou pela trilha de aproximadamente uma hora de caminhada, até hoje, as únicas opções para se chegar até este paradisíaco local. Porém, hoje, a trilha de paisagem inigualável não abriga os fantasmas de antigamente. Segundo contam, pelo caminho tem uma figueira e um pé de jambo onde ouviam-se sons estranhos e que as pessoas mais sensíveis sentiam o seu corpo “engrossar”, sabe-se lá porque...
O paraíso com dificuldades sociais traz a saudade de felizes dias vividos, quando a palavra do homem valia mais que qualquer fortuna. O lugar onde amores se eternizaram formando o povo caiçara. Assim foi com meus pais, pois na praia acima descrita em poucas linhas, eu, Claudia Oliveira, que faço parte desta história que está presente apenas na memória de quem teve o prazer de compartilhar deste passado, nasci.
Hoje, a luz elétrica, telefones e mansões de veraneio fazem parte do belo cenário da praia do Flamengo. Pessoas famosas como o ex-governador Paulo Egídio, com residência desde 1.980, contribuíram com a modernidade do lugar. 
Abrigo para pescadores e embarcações de passeio, Flamengo também é procurada por turistas que se refugiam do agito das praias centrais e querem passar um dia tranqüilo, um dia no paraíso... Em águas claras, som de pássaros com vista para Ilha Anchieta, o refúgio perfeito para os observadores do ciclo do tempo, onde resquícios do passado fundem-se com o progresso nos fazendo refletir sobre o futuro ou, simplesmente, não pensar em nada e deixar o “sentir” tomar conta do seu ser! 
Em meio às colinas, um lugar inesquecível!