Altivo Costa 

 

É muito fácil saber das coisas da vida, é só observar o que a natureza nos diz e que os mais velhos nos ensinam. É assim que o senhor Altivo Costa, 77 anos, dez filhos, 49 netos e 20 bisnetos, nos diz ter adquirido tanta sabedoria. Com sorriso esboçado no rosto, senhor Altivo desanda a falar de coisas vividas por ele e tantos outros moradores do Prumirim que a nossa geração nunca terá o prazer de alcançar. Nas casas de pau-a-pique, a técnica de conservação do telhado era muito importante. Eu disse telhado? Desculpem-me, era palha de guaricanga, uma palha mais bonita e resistente que o sapé, que era tecido entre as ripas do palmiteiro, depois sobrepunha-se folhas de coqueiro para proteger do vento. A fumaça do fogão à lenha em ação com a guaricanga formava uma camada protetora, fazendo mesmo forração por uns doze anos. E por falar em fogão a lenha, na época não tinha fósforo. Usavam um gomo de bambu com estopa dentro, uma lima que ao esfregar contra uma pedra branca emitia faísca acendendo assim o sofisticado fogão a lenha, que fazia as delícias culinárias, de sabores inigualáveis aos de hoje, e aquecendo a casa em dias de inverno. Os antigos caiçaras, sem dúvida, são mais resistentes do que a nova geração, pois a alimentação era extremamente saudável: o que plantavam e colhiam. Os peixes era de assustadora abundância. O banho gelado no rio tornava o corpo resistente ao tempo, não se falava em resfriado. Com a embira retirada da árvore de embaúba produzia-se artesanalmente a linha de pesca ou com a folha do coqueiro tucum que bem torcida oferece uma linha de ótima resistência, com a qual seu Altivo chegou a pescar duas caçoas de 60 kilos cada em um mesmo dia. Ele diz que peixe de fundo como corvina, sardinha e tantos outros era comum.
Pouco iam a cidade. De canoa a vela, dependendo do vento, levava três horas e a pé, um dia inteiro. O jeito era fabricar as próprias especiarias. No lugar do açúcar, usavam a garapa da cana, e também faziam o pé-de-moleque que quando saía do ponto, virava bala puxa-puxa.
O mau tempo é avisado pela natureza, quando o vento noroeste (vento quente) está por aproximar-se e o cheiro da vassourinha, mato de folha miúda, usada pelos antigos para varrer a casa, espalha-se no ar rapidamente como um boato. O vento noroeste nunca vem só, atrás dele sempre chega outro vento qualquer, que traz consigo a chuva. Quando a trovoada forma-se em terra, é chuva rápida, logo clareia. Mas, se esta forma-se em alto mar, não tem jeito: temos que nos preparar para mais uns dias de água. Porém, se no horizonte do oceano está clareando, já sabemos que em pouquíssimos dias o sol surgirá: claro que se não tiver outra frente fria seguida. O mesmo aviso é previsto na observação das marés, pois é ela que busca e leva os ventos, esteja ele vindo do norte, sul, leste ou oeste.
O Senhor Altivo não acredita muito no milagre de médicos, mas sim na medicina milagrosa criada por Deus, as ervas. Ele ensina que para quem tem problemas de bicha o bom remédio é: socar a folha de hortelã e depois tomar ou fazer o chá da erva Santa Maria. Para desarranjo intestinal é: folha de pitanga, com folha de goiaba e broto de araçá, cozinhados juntos. A folha da pitanga ou a folha de amora-do-mato é ótima para dor de garganta, com o chá, fazer gargarejo. Indica também para quem tem problema de pressão, como ele, usar no centro do peito, amarrado por uma corda de nylon um olho-de-boi, que dá na árvore da coronha. Afirma ser funcional, nunca mais teve problemas.
Lamenta, pelo homem que a tudo tem e pouco dá valor, que com suas invenções causa disparates incontroláveis, acabando e não construindo como dizem. Diz sentir-se perdido na velocidade que o mundo tomou, porém observa que os jovens atropelam o aprendizado, esquecendo-se muitas vezes da essência. Quem quiser aprender mais com este caiçara é só ir ao Prumirim e procurar pelo camping do Sr. Altivo.
Os mais antigos têm muita coisa a nos ensinar